sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A GEADA e a AGRICULTURA

INTRODUÇÃO

A geada é o processo através do qual cristais de gelo são depositados sobre uma superfície exposta. Normalmente ocorre a formação de geada quando a temperatura do solo cai abaixo de 0ºC.

Em tais oportunidades o ar, especialmente a certa altura do solo, pode acusar temperaturas muito mais elevadas.

De acordo com o que antecede, se compreende com facilidade por que com relativa frequência os observadores meteorológicos anotam temperaturas do ar de 3º ou 4ºC, ao mesmo tempo em que se observa a geada, haja visto que, o termômetro se localiza no interior do abrigo meteorológico a sua altura de 1,50m do solo.

Se a tensão do vapor é muito baixa, o vapor de água contida na atmosfera que se resfria, congela diretamente, sem passar pelo estado líquido, assim ocorre quando a tensão é inferior a 4,6 mm de mercúrio.

Apesar da aparência cristalina da geada, um exame dos cristais de gelo demonstram que estes, na maioria dos casos são de estrutura amorfa.

CAUSAS FAVORÁVEIS A FORMAÇÃO DA GEADA

As causas favoráveis a formação da geada, de natureza varias podem ser distribuídas em duas classes distintas: umas dependentes das condições meteorológicas da ocasião , outras resultantes das condições locais.

Condições meteorológicas da ocasião

Temperatura baixa

Limpidez atmosférica e, consequentemente , maior irradiação do calor , armazenado pelo solo e pelas plantas

Maior pureza ambiente

As poeiras e partículas sólidas , provenientes das queimadas, mantendo-se em suspensão no ar servem de núcleos de condensação para o vapor de água e consequentemente formação de nevoeiro úmido.

Baixo teor de umidade

Uma elevada proporção de umidade pode ser a causa da ocorrência de nevoeiro, que impeça a deposição da geada.

Vento de fraca velocidade ou completamente nulo

O vento sendo de velocidade apreciável, geralmente dificulta a formação da geada, uma vez que a porção de ar resfriado, em um local dado, vai sendo substituída por nova massa de ar mais quente.

Duração do tempo , durante o qual se verifica a irradiação noturna. Uma noite de céu meio encoberto, trará um fraco resfriamento, pouco propício ‘a deposição da geada e logo compensado pelo reaquecimento, que se verifica com o nascer do sol.

Repetição do nevoeiro

Noites seguidas , consequência do abaixamento da temperatura ambiente e perda progressiva de calor do solo e da planta, por irradiação prolongada.

Condições locais

Exposição do terreno

Geada

Exposição é o ângulo de declive que forma a superfície do terreno com o plano do horizonte, referindo aos quatro pontos cardeais.

Os terrenos expostos ao NORTE e a LESTE, recebendo mais perpendicularmente os raios solares, tem uma constante térmica mais elevada, pelo que são menos sujeitos à formação de geadas.

Tal vantagem é , em parte, prejudicada pelo dano de um degelo brusco, no caso de ocorrência do meteoro.

Os terrenos expostos ao SUL e ao OESTE recebem os raios solares mais obliquamente, por esse fato seu grau de calor específico por acumululação, é baixo, oferecendo assim maior probabilidade para registro da geada.

Proximidade da mata

A pequena faixa de terra, situada à borda da mata, é mais sujeita a formação da geada.

Latitude e altitude

É por demais sabido que o grau termométrico varia na razão inversa do valor da latitude. Quanto a altitude , diremos que somente a sua influência vai a ponto de, sob um mesmo paralelo geográfico, se encontrarem climas tórridos como o do Amazonas e gélidos como as altas montanhas do Peru.

Umidade do solo e do ar

A - o solo ligeiramente úmido concorre para formação da geada
B - o solo encharcado dificulta a ocorrência do fenômeno
C - o ar ligeiramente úmido é favorável a geada
D - o ar muito úmido opõe-se a geada e favorece às neblinas e garoas.

As plantas também ajudam a esfriar o ar. Como as folhas das plantas não passam de simples lâminas, incapazes de armazenar calor a perda térmica pela radiação resultará na queda da sua temperatura. E, por contato ocorrerá também a queda da temperatura do ar que a envolve. O ar frio , sendo mais pesado , terá a tendência de se acamar, formando assim, o que se chama de "inversâo".

AS GEADAS E A AGRICULTURA

Os orgãos das plantas, morrem quando são submetidos a ação do frio intenso e prolongado.

Existem espécies tropicais, como o cacau, que sofrem com o frio e a temperatura superiores a 0º C, a grande maioria das plantas agrícolas das regiões temperadas só se danificam consideravelmente quando a temperatura do ar desce a uma temperatura igual ou inferior a 0º C.

Muitas vezes ocorre que, durante a noite, a temperatura do ar chega a vários graus abaixo de zero e, sem embargo, ao achar-se o ponto de orvalho indubitavelmente abaixo de 0º C, porque o ar se acha execivamente seco, não se registra a produção da geada branca.

Em tais ocasiões o efeito pernicioso do frio se produz sem nenhum impedimento e ao seguinte ou pouco tempo depois isso é possível comprovar, pois as partes ou plantas sensíveis ao frio, ao morrer, adquirem uma coloração negra.

É por essa razão que quando a temperatura do ar desce a 0º C, ou graus abaixo de zero e não se produz o depósito de geada se diz que há uma geada negra. As plantas sofrem o efeito pernicioso das temperaturas iguais ou inferiores a 0º , e têm pouca importância que manifestem ou não a presença de um depósito de escarcha ou geada branca.

É por esta razão que os meteorologistas consideram o ponto de geada toda vez que o termômetro de mínima, colocado no abrigo, a 1,50 m sobre o solo, acusa uma temperatura do ar igual ou inferior a 0º C.

Geada

Os dados de geadas, assim compilados, resultam eficientes para relacioná-los com plantas altas, tais como árvores frutíferas.

Não ocorre o mesmo com as plantas baixas, por exemplo, o alfafa, pois a superfície dos objetos ou plantas situadas ao nível do solo podem causar temperaturas inferiores a 0º C, enquanto que, ao mesmo instante, o termômetro colocado no abrigo indica uma temperatura muito superior.

O dano que produz sobre o cultivo de uma determinada variedade agrícola uma geada intensa e duradoura, também determinadas depende principalmente do momento do ciclo vegetativo a qual se encontra.

Por exemplo, uma geada que alcança - 4º C , durante uma hora, em um cultivo de maçãs da variedade Jonathans, os danos que produzirá serão o seguinte:

Momento do ciclo vegetativo Danos sobre a colheita
frutos verdes perda praticamente total
plena floração diminuição apreciável na produção
botões florais fechados sem cor nenhum dano
repouso invernal absolutamente nenhum dano

Alguns autores atribuem uma grande importância à velocidade do congelamento e degelo dos órgãos; as experiências modernas, em geral, não confirmam, particularmente o aspecto do degelo. A explicação do porque ocorre a morte dos tecidos, por defeito das baixas temperaturas, é um dos problemas mais árduos que a fisiologia vegetal tem que elucidar.

Em efeito segundo experiências, cada espécie acusa a mais alta resistência ao frio quando está exposta a uma duração ótima do dia, abaixo a influência de dias mais longos ou mais curtos, a resistência ao frio decresce de forma notável.

As plantas anuais, bianuais ou perenes, que são cultivadas para aproveitar o fruto, pode-se estabelecer quatro graus crescentes de prejuizos por geadas que se seguem:

A - O frio ou mata os órgãos vegetativos, tais como folhas e talos, perturbando as funções dos orgãos restantes.

B - A geada destroi um grande número de flores, impedindo, assim que muitas delas se transformam em frutos.

C - A baixa temperatura destroi os frutos em formação, e os que sobrevivem resultam mal formados.

D - O frio é o suficiente intenso e prolongado como para provocar a morte da planta completa.

As geadas que se registram no inverno, geralmente são as menos daninhas, pois as plantas nessa época, por achar-se em estado de hibernação, acusam poucas sensibilidade ao frio, assim ocorre por exemplo , com o centeio, a videira, a pera, etc.

A figueira por exemplo, durante o inverno pode suportar sem nenhum incoveniente geadas de 2 e 3ºC abaixo de zero, mas a morte da planta se produz, quando a temperatura desce a –16ºC; a –6ºC morre os tecidos do limoeiro, e a só –2ºC um cultivo de ananais é destruído por completo.

A temperatura que provoca, por frio, a morte das plantas se denomina temperatura letal por frio.

Os frutos que maduram durante o inverno, como os de laranjeira resultam de uma qualidade comercial muito deficiente, quando são afetados pelas geadas ibernais; as laranjas maduras, ou quase maduras, são seriamente atingidas quando a temperatura do ar permanece algumas horas a –4º ou –5ºC.

O seguinte quadro mostra os níveis térmicos, de dano por frio, para algumas espécies de frutas, segundo o momento do ciclo vegetativo.

Temperatura do ar em ºC quando começa o dano em:

ESPÉCIE DESCANSO PLENA FLORAÇÃO PEQ. FRUTOS VERDES
Limoeiro -3,3 -1,1 -1,1
Videira -17 -0,6 -0,6
Pera -28,9 -2,2 -1,1
Maçã -34,4 -2,2 -1,7
Cereja -28,9 -2,2 -1,1

Como se pode ver, a resistência ao frio das espécies de frutas de folhas caducas é muito elevada durante a época de hibernação, mas diminui notavelmente na primavera, ao começar a atividade fisiológica do vegetal, sendo ínfima ao formar os frutos.

As geadas tardias (que se formam depois do inverno terminar), ocasionam os seguintes danos:

A - Destroem ou prejudicam seriamente, as jovens plantas dos cultivos de primavera, por exemplo o algodão.

B -Inutilizam as flores das plantas que, geralmente, nessa época se acham em plena espigação ou floração, por exemplo o trigo.

C -Provocam a mal formação dos frutos que, na primavera , estão adquirindo volume, por exemplo as peras.

D -Deteminam a morte dos frutos que ao finalizar o inverno, iniciam o crescimento , por exemplo os damascos.

Os prejuízos mais importantes, provocados pelas geadas temporãs são:

A - Ao produzir a morte prematura das plantas que frutificam escalonadamente, mesmo em forma apreciável a colheita, por exemplo do algodão

B - Prejudicam a qualidade industrial de certos cultivos, como a cana-de-açúcar, e decertos frutos, como das oliveiras.

Efeito da geada sobre:

CANA DE AÇÚCAR

Os efeitos da baixa temperatura nesta gramínea são acentuados, pois quando submetidos às baixas temperaturas elas tem o ponteiro apical "queimado" e em consequência na inibição no crescimento da planta, principalmente daquelas canas com cerca de dois gomo. Para recuperar e mesmo incentivar o crescimento dessa lavoura é necessário adubá-las.

CAFÉ

Pode provocar a destruição dos tecidos dos troncos do cafeeiro "geada de canela". Esta danificação do tronco tende a ocorrer principalmente em cafeeiros novos, quando a planta é mais sensível ao frio, e exepcionalmente em cafeeiros adultos. A circulação da seiva, da raiz para as folhas é feita com dificuldade, o que leva a redução gradual da capacidade produtiva da planta e até mesmo, o que exige a erradicação dos cafezais atingidos.

PECUÁRIA

O rebanho bovino é prejudicado e mesmo com a suplementação alimentar, há normalmente uma redução no mercado, na oferta de leite e carne.

Nas regiões de ocorrência geralmente são plantadas gramíneas próprias de clima frio e, portanto resistente às oscilações negativas de temperatura do ar, o que se verifica, após a ocorrência de geada, é a queima das partes ainda verde, inibindo assim, a capacidade de recuperação do pecuarista é, de uma lado com o perigo de incêndio do pasto, de outro , com a redução , ainda mais acentuada da capacidade de lotação.

CONCLUSÃO

O prejuízo causado a agricultura pela geada depende de alguns fatores: espécie cultivada, intensidade da geada, do tempo em que desenvolve das plantas cultivadas. O estudo da geada é uma condição indispensável pois prejudicando a cultura provoca a quebra da produção e prejuízos econômicos.

O conhecimento das épocas em que ocorre as geadas é essencial para o planejamento das operações na agricultura, com vistas a otimização da produção e produtividade.

BIBLIOGRAFIA

2º Congresso Brasileiro de Meteorologia vol. 2
A Geada e o Café
Revista Balde Branco – jun/991
Climatologia Y Fenologia Agricola

Marcelo Romão

Fonte: www.servicos.hd1.com.b

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